Se é pra modelar que seja o melhor!

Roy Haynes e a “old school” brasileira

             
Imagem do baterista Roy Haynes para o blog do site Chico Oliveira Música
Se é pra modelar que seja o melhor - Chico Oliveira Música Roy Haynes
                                                                                         

Roy Haynes

Se é pra modelar, que seja o melhor, Roy Haynes por exemplo. Ontem, 13 de março de 2017, o lendário baterista Roy Haynes completou 92 anos. A comemoração por essa "primavera" (como diz a minha avó Maria de 94 anos), foi celebrada por músicos e amantes do jazz em todo mundo, sobretudo, nos Estados Unidos.
 
Roy Haynes, nos últimos 70 anos tem sido um dos bateristas mais cultuados do jazz, especialmente pela sua forma visceral em tocar, distribuindo energia por onde passa.
 

     A primeira vez que escutei Haynes foi no disco Question and Answer do guitarrista Pat Metheny, disco esse que apresenta nas entrelinhas uma homenagem a Haynes e ao contrabaixista Dave Holland, outro gigante do jazz.
 
Logo na primeira faixa do disco, Roy Haynes diz ao que veio com uma introdução completamente inusitada para o "Standard" Solar, e o disco segue, com uma abordagem baterística completamente não convencional. 
 
Confesso que foi difícil entender, até porque tinha sido um dos primeiros CDs de jazz que tive contato, mas uma vez entendido, percebi a genialidade de Haynes.
 
Músicos como ele imprimem tanta personalidade em suas abordagens musicais que para um ouvinte mediano a identificação é imediata.
 

"Panela velha é que faz comida boa"

 
     Assim como acontece com Roy Haynes, observo uma reverência da cultura jazzística dos Estados Unidos, sobretudo dos músicos mais jovens para com os mais antigos. McCoy Tyner, Jimmy Cobb, Sonny Rollins, Wayne Shorter, Herbie Hancock, Ron Carter, Gary Peacock e tantos outros são ovacionados pela audiência jazzística e estão sempre tocando.
 
A impressão que tenho é que eles funcionam como talismãs para os festivais de jazz e para os novos músicos em relação aos mais antigos.  
 
Esse cuidado com  a "velha guarda" jazzística deveria ser adotada aqui no Brasil, se é pra modelar que seja o melhor.
 

"American way life"

Adotamos o Mc Donald's, a Nike, o hot-dog, a cultura "fashion", a "american way life" e tantos outros itens de "primeira importância" dos Estados Unidos e nos esquecemos desses conceitos "adjacentes" (para nós!) que eles cultivam tão bem; a reverência e cuidado com os mestres da "old school" de qualquer área do conhecimento, o padrão de qualidade que eles, em geral, imprimem em suas performances (Podemos lembrar da equipe feminina de ginástica olímpica!)...
 
Essa auto-percepção da eterna superioridade que eles tem, em geral, é recebida de forma bastante ameaçadora pelo resto do mundo, mas é inquestionável que agrega várias reflexões.
 
A busca por estar sempre no topo, gera um clima de trabalho em busca da excelência, que incontestavelmente traz resultados positivos.
 
    No Brasil, após alguns anos os músicos são condenados à sarjeta, muitos mudam de profissão, outros procuram vagas em abrigos para "ex-artistas" etc. Como se o potencial artístico de alguém tivesse validade, vira-se uma bandeja de queijo ou potinho de iogurte.
 

"Djalma Galo Cego"

 
    Vendo fotos através das redes sociais das comemorações para Roy Haynes, me lembrei de Djalma "Galo Cego" (Ele não enxergava de um dos olhos e por isso era assim chamado e usava óculos - bem excêntricos por sinal!), figura folclórica que tive a honra de conviver quando toquei na Orquestra Fred Dantas.
 
Djalma,  tinha sido percussionista dos cabarés (Tabaris etc) de Salvador nos anos de 1960 e 70 e guardava uma infinidade de histórias.
 
"Galo", como era chamado por todos, apesar  de  naquela época ter quase 70 anos, incorporava sua verve de dançarino e tinha um momento "solo" no qual se tornava o protagonista da orquestra, que em geral tocava uma sequência de mambos e afins. Sucesso garantido!
 
Já faz uns dez anos que soube da morte de "Galo", que vivia com muita dificuldade.
 
Infelizmente, procurei uma imagem de "Galo" para postar aqui e não achei, uma prova de como nosso sistema falha na direção dos mais "experimentados".
 
Djalma "Galo Cego", será lembrado enquanto aqueles que conviveram com ele sobreviverem, e ponto, segue a vida, um pouco diferente do que acontece com Roy Haynes.
 

Músico brasileiro

Realmente, a nossa sociedade tem um longo caminho a percorrer na direção evolutiva. Temos muitas qualidades; temos o orgulho em ser brasileiro, temos uma simpatia que causa inveja, somos naturalmente humorados, alegres, criativos, trabalhadores...
 
É inquestionável que precisamos avançar muito no que diz respeito ao próximo, principalmente, se o próximo não for tão próximo.
 
Ser músico no Brasil (não posso falar de outros lugares, mas daqui posso e com conhecimento de causa!) é uma escolha muito difícil, implica em renúncias de diversas ordens, embora, não seja o momento de enumerá-las.
 
Músico é uma escolha essencialmente pessoal, de fórum íntimo. Não conheço ninguém que escolheu a música como profissão por pressão familiar ou algo do tipo.
 
Nós, músicos brasileiros, temos a obrigação em dar os primeiros passos rumo a uma valorização dos mais antigos, sobretudo, os instrumentistas que com pás e picaretas capinaram o que chamamos de música brasileira e historicamente foram menos amparados, com alcances monetários muitas vezes irrisórios em relação ao que produziram.
 
Vida longa a Roy Haynes! Que ele  e outros heróis de menor projeção espalhados pelo mundo, "Heynem" de forma proporcional ao legado e dedicação em suas carreiras. 
 
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Chico Oliveira.
 
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