As Travessuras do Sucesso!

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As travessuras do sucesso - Chico Oliveira Música Blog

Percepções de sucesso

"Que você tenha muito sucesso!" - Não é raro que músicos, recebam esses votos em datas de aniversário, natal, ano novo, ou seja lá qual for, como um reforço a um mergulho nas travessuras do sucesso...

No imaginário coletivo, sempre há a impressão de que perseguimos o tal "sucesso" como a única alternativa possível e imaginável de vida bem sucedida. 

Glamour no alvo

Sucesso, tal como percebo ser desenhado na mente de muitas pessoas, vem a ser uma vida com opulência financeira, ventilada por viagens em cruzeiros de luxo, aparições nos meios de comunicação divagando sobre todo e qualquer assunto,  ter a vida social em intersecção com a particular e ambas em constante exposição, moradias em "palácios", aparições em festas, roupas caras e de grifes famosas...
 
Enfim, esse modelo é atrativo pra muita gente - o consumo de luxo e "status social". 

 A realidade

No meu círculo imediato de colegas de trabalho, não consigo perceber em nenhum deles essa perseguição pelo "sucesso", ao contrário, direcionamos a vida para trajetos que a mim, parece ser incompatível com uma vida "glamourosa".
 
Talvez essa minha percepção seja fruto do tipo de música que consumo e costumo trabalhar, um pouco mais afastada da música de "indústria".
 
O seguimento que trafego, utilizando a mesma medida, seria uma música mais artesanal, de "luthier" ,e na qual o conceito de sucesso é um pouco diferente, e em geral, contém aspirações como; pagar as contas dignamente, carro, moradia digna, ter bons instrumentos, tempo diário dedicado a música, realização de projetos musicais, lazer entre amigos e família, ausência de compromissos sociais que atrapalhem a rotina na música,  portanto, uma rotina que em tese, não anula a vida profissional (que a priori deve ser recheada de realizações!).
 
Não há uma corrida rumo as vitórias do "ter" incessantemente, mas uma corrida para o realizar.
 
Talvez esteja projetando um comportamento meu, mas é o que percebo nos meus pares também.
 
Infelizmente, nem sempre conversamos sobre essas questões.  

 Em meio às travessuras

Lembro de uma vez que fui confundido como músico do grupo "Os Travessos" (Logo eu?), no saguão do aeroporto de Recife, por um pelotão de garotas em estado alterado de consciência.
 
Momento tenso! Realmente havíamos nos encontrado com o grupo no vôo, e até trocamos algumas palavras com integrantes.
 
Não lembro bem, mas talvez o técnico de som que estava conosco, conhecia o técnico de som deles, algo assim.
 
Faz muito tempo que não vou a Recife e não sei como está o aeroporto, mas lembro que havia uma espécie de ônibus que nos levava do avião, até o saguão de desembarque.
 
Antes de descermos do avião para entrarmos no ônibus,  já havia um representante da Polícia local, orientando a todos os integrantes dos "Travessos":
 
 - Vocês terão que sair por ali! 
 
Do ônibus, já se escutava o barulho no aeroporto, uma gritaria digna de estádio de futebol!
 
Se duas mulheres conversando, ao aflorarem a emotividade que lhes é característica, já se fazem serem escutadas num raio razoável de ação, imagem umas 400 ou mais?  (Brincadeira, mulheres em geral são bem silenciosas, sobretudo, as da minha família! Uma rosa para todas elas...).
 
Eu, que nunca tive necessidade em aprender a  lidar com fãs, e ávido por chegar logo ao hotel, fui o primeiro a apontar no portão do saguão de desembarque.
 
Com a inocência de uma criança de 3 anos, fui andando, todo paramentado com uma sacola de viagem à lateral e o softcase da guitarra ajustado nas costas.
 
Não demorou e escutei lá do além uma voz:
 
- Esse é "fulano", o que entrou na banda esses dias. (com aquele sotaque bem carregado pernambucano).  

De um "travesso" a um desesperado

Em frações de segundo, me vi com dezenas de mãos em cima de mim, sob puxões, gritos etc. Uma sensação horrível, desesperadora!
 
Pra minha sorte, uma pessoa da equipe técnica estava logo atrás e começou a gritar que eu não era dos "Travessos" e que éramos de outro grupo, foi então que me soltaram.
 
Naquele instante, eu já tinha alguns arranhões nos braços, uma das mangas da camisa descosturada e um botão da camisa arrancado.

No sabor há um preço

Por mais cômico que tenha sido, e que contar pareça ser, não me recordo desse fato como algo engraçado, pelo contrário, foi uma aula séria do comportamento humano.
 
Não acho que a admiração por alguém deva ser expressada daquela forma; violenta, invasiva, desproporcional para com um ser humano que certamente é igual a nós em potencialidades.
 
Talvez aquelas meninas precisavam modelar a vida de seus ídolos para suprir necessidades emocionais diversas, o  "glamour" que o grupo se fazia perceber (eles estavam no auge do "sucesso"), talvez....Difícil precisar!
 
Nunca esteve nos meus pensamentos nenhum dos extremos do sucesso, nem aquele que desfruta das beneficies da grande exposição de sua vida pública bem "sucedida", nem daquele que alimenta a "promoção celestial" conseguida por seus ídolos.

Refletores! Prefiro os de casa!

Por agora, prefiro continuar sendo o músico mais famoso do prédio em que moro, e/ou, o guitarrista de maior sucesso na minha família.  
 
Provavelmente sou muito preguiçoso para provar das travessuras do sucesso.
 
Chico Oliveira
Este texto foi originalmente postado em 08 de maio de 2017
 
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