Música, um loteamento de todos nós!
A música é uma das áreas do conhecimento (podemos assim dizer) que mais sensibiliza a capacidade em emitir "opinião" das pessoas. Em cada esquina do planeta, é possível ser encontrado um crítico musical.
Quando há algum acontecimento na área econômica, é de praxe a chamada pelos meios de comunicação de um economista para comentários mais estruturados.
Nos crimes de maior repercussão, chama-se alguém do judiciário e/ou um psicólogo, ou seja, quem tem entendimento técnico para comentar; perfil psicológico do(s) criminoso(s) ou as prerrogativas jurídicas...
Quando o assunto é esporte, em geral chama-se um jornalista especializado na área e/ou um ex-atleta etc. Mas na música...Ahhh! A música...não há terreno que mais possa ser loteado por qualquer "transeunte" quanto a música! Todos podem discorrer sobre mercado musical, arranjos, cantores, bandas, instrumentistas, canções, expressão corporal, afinação etc. Desde as rodas informais de amigos, até o noticiário de maior alcance no país.
E a "profundidade" de "tigela" passa se fazer presente em ciclos intermináveis de verborragia. Lamentável!
A mensagem é o importante
Talvez, não fosse necessário para cumprir função de comentarista artístico, um acadêmico, mas apenas alguém com notório saber, experiência na área, "anos de janela", que pudesse decodificar com maior alcance possível, de forma simples e objetiva os processos artísticos (quando houvesse pertinência!), o contexto em que eles podem ocorrer, a conjuntura em que ocorrem e, sobretudo, boa articulação de ideias.
E que pudéssemos discordar de tudo que esse especialista tivesse a dizer, mas no campo de ideias pertinentes e estruturadas e não na tentativa de erro e acerto, apenas para não se render ao silêncio.
Superego ou super ego?
Fico sempre pensando que a música, por ser um "elemento" da natureza com o qual temos tanta proximidade, intimidade e até mesmo representatividade, nos licencia de forma tão inconsciente para discorrer sobre ela, que ultrapassamos os limites da nossa censurada interior, aquela a qual a psicanálise chamou de "superego".
Sinto falta de crítica especializada, por quem realmente sabe do que está falando.
Ser livre pra pensar e o "pensar" para ser livre
O exercício do livre - pensamento, de forma tão desrespeitosa com a audiência, como é feito por muitos meios de comunicação, no meu entendimento, é tão nocivo ao momento histórico - cultural que vivemos que reforça a construção de uma muralha entre entretenimento e arte, duas "manifestações" de uma sociedade que não necessariamente precisavam viver tão distantes, como temos visto.
A sinceridade me interessa
Esse panorama, no qual podemos contemplar a guerra entre a informação consciente e a conveniente, me faz lembrar sobre uma reflexão que sempre me ocorre - Há dois tipos de expressão "artística": a com e a sem sinceridade. Muitas das com sinceridade me interessam!
E você, opinião, tem alguma?
Este texto foi originalmente publicado em 03 de março de 2017.