Como organizar um repertório ?
Como organizar um repertório ?

É simples, mas não é fácil!

Organizar um repertório, atividade aparentemente simples, não é algo tão fácil. Em alguma medida, há “ciência”. Compartilho nesse texto algumas considerações que funcionam ou funcionaram comigo ao longo dos anos.

Uma apresentação musical, frequentemente é avaliada como atividade simples por quem aprecia, “analisa de fora”.

A “festa”, em geral, aparenta ser; ligar equipamentos, começar a tocar, e pronto, “brilho e beleza” que o resto é surpresa.

Muitas pessoas ignoram a engenhosa atividade que pode se tornar uma apresentação músical, mesmo que seja bem modesta.

O resultado que vemos no palco, é algo que em geral foi construído bem antes…Seja através dos anos de dedicação entregues à música pelos instrumentistas, seja pela divulgação, seja por detalhes na sonorização, construção de repertório etc.

Uma apresentação “funcionando”, guarda uma série de atividades não percebidas pelo público. É um quebra-cabeças que tem como imagem final, as características particularidades de cada trabalho, e uma dessas características é a elaboração do repertório.

Expectativa do artista

Todo artista que permite-se à exposição pública, quer o reconhecimento do seu trabalho, que pode ser manifestado de diversas formas.

Todos nós desejamos que o público saia satisfeito das nossas apresentações, e retorne trazendo mais pessoas. Que se torne um divulgador da nossa música, e que a audiência, perceba o valor do trabalho exposto, da forma mais fiel possível às nossas intenções.

É a nossa obrigação enquanto artistas, ou produtores de entretenimento, proporcionarmos ao expectador, dentro das nossas possibilidades, a melhor experiência possível com o que promovemos.

Controle e conformação

Uma apresentação musical pode guardar muitos imprevistos. Não há como ter controle de tudo que possa ocorrer, no entanto, devemos diminuir ao máximo as possibilidades de imprevistos que interfiram no perfeito cumprimento daquele objetivo.

Ter o maior controle possível da impressão que o repertório causará nas pessoas, é uma habilidade essencial que precisamos desenvolver.

Alguns passos para um bom repertório

A seguir, divido um pouco do que venho aprendendo ao longo dos anos sobre repertório.

Conhecendo o público

Identificar o público – alvo ao qual a apresentação será proposta, considero o primeiro passo para acertar no repertório.

Traçar o perfil do público é de grande valia, sobretudo, como forma de despertar no público, interesse pela proposta musical.

Poderíamos estimar fatores como:

  1. Faixa – etária; Apesar de fazerem parte de um mesmo gênero musical – rock, os Beatles não necessariamente agradam a mesma classe etária que é agradada pelo Linkin Park.
  2. Origem: São estudantes universitários de Manaus? Alunos da escola pública de “Siribinha”? É um grupo de japoneses excursionando pelo Brasil?
  3. A que se destina o evento? Confraternização de Ex-Combatentes de guerra? Festival de bandas do colégio? Baile dançante? Concurso de Sanfoneiros de Juazeiro?

A moldura do contexto

O contexto da apresentação musical, é um ponto a ser observado. A expectativa do público que vai ao Festival de Verão em Salvador, não necessariamente é a mesma do público que vai ao Teatro Gamboa Nova, também em Salvador.

O local da apresentação deve ser um ponto relevante das observações.

Tocar duas baladas, em um universo de 14 músicas, num teatro, a priori, pode ser mais pertinente que tocar duas baladas, no mesmo universo de 14 músicas, na orla de Copacabana.

A fila realmente organiza

Organizar uma boa ordem das músicas, não apenas serve de lembrete para o artista, mas sobretudo, pode preparar o público para receber a sua proposta musical da melhor forma possível.

Quanto a sequência, comigo tem funcionado da seguinte maneira; a primeira, a última e o “bis”, devem ser "músicas de maior resposta”.

A expressão, "músicas de maior resposta”, não necessariamente deve ser interpretada como uma tentativa em agradar o público a qualquer custo. Não mesmo.

Acredito que cada música deve ter uma função no repertório e o posicionamento dessas funções pode ser um ponto de diferenciação.

Uma boa estratégia, é executar músicas mais acessíveis ao público, ou seja, com maior potencial de identificação (por serem mais conhecidas, ou por despertarem uma sensação de pertencimento etc.), intercaladas por músicas menos acessíveis.

Quando a apresentação tiver uma abordagem autoral, pode ser mais pertinente, em algum momento da apresentação, oferecer músicas conhecidas para manter o interesse da plateia.

Técnica com os sentidos

Evitar executar músicas de andamento lento seguidamente, assim como evitar muitas músicas de andamento rápido de forma contínua.

Existem artistas que organizam o repertório analisando até mesmo as tonalidades das músicas. Não é tão raro que as músicas apareçam em tonalidades num sentido ascendente da escala cromática.

Andamentos e tonalidades iguais, promovem uma tendência a cansar o público e os músicos (Vale avaliar o contexto).

Quem não se comunica, se estrumbica

A comunicação com o público é sempre um ponto a favor. Artistas como João Bosco, Benjamim Taubkin, Ivete Sangalo entre outros, são grandes exemplos de uma boa comunicação com a plateia.

Indiscutivelmente, o repertório pode ser uma grande via de comunicação com o público.

Sempre que possível e oportuno, explique o repertório, faça ligações com pessoas presentes, com lugares etc – Esses procedimentos, despertam uma maior aceitação do público.

Olhando para o relógio

Uma sequência de músicas bem elaborada e experimentada pode colaborar bastante com o controle da duração de uma apresentação.

O percurso de um trio elétrico no carnaval, geralmente, demanda um repertório muito maior que uma apresentação num teatro.

A dimensão do repertório, pode ser fundamental para deixar no público, um gostinho de “quero – mais”, ao invés da sensação de “cansativo”.

É importantíssimo, disponibilizar ao corpo técnico e ao(s) músico(s), uma lista com a provável ordem das músicas. Esse, além de um sinal de profissionalismo, é garantia contra interrupções, que não apenas o estabelecimento de contato com o público.

Para o "bis", caso não se tenha uma música “forte” que ainda não foi tocada, a melhor opção é repetir aquela que teve uma maior aceitação na apresentação.

100% nosso de cada dia

A execução, talvez seja o ponto mais importante sobre repertório. Executar o repertório da melhor forma possível, ensaiado, é condição anterior a qualquer apresentação.

Vale sempre lembrar, que dependendo do contexto, aquelas pessoas saíram de casa apenas para irem nos ver/ouvir. Tiveram custos não apenas com ingressos, mas com transporte, tempo, alimentação etc.

Que a nossa capacidade de executar as músicas, seja sempre o 100% que temos para dar.

Coda

Nesse momento em que termino de escrever, penso no quanto esse assunto ainda pode ser explorado, no quanto outras pessoas exploram seus repertórios por outros ângulos etc.

E você, achava que repertório poderia render tanto assunto? Como você aborda a questão?

Deixe nos comentários suas considerações, questionamentos e sugestões. Sua opinião me interessa.

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Um abraço e até breve,

Chico Oliveira.

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